Ele me comunicou, bem satisfeito,
que havia ingressado por concurso na administração pública.
Parabenizei-o e perguntei-lhe
quem iria continuar seu trabalho de limpador de telhados, podador de árvores, lavador de caixas d’água,
serviços de homem sem medo de altura.
Ele me pediu que ficasse tranquilo,
pois tudo já estava acertado com o chefe da Repartição.
Eram conhecidos desde o tempo de escola,
perderam-se de vista quando o colega foi para o ginásio
e ele para o corte da cana, ajudante da mãe.
Depois foi servente de pedreiro, serviu o Exército,
freqüentou curso noturno, tinha muitas habilidades profissionais e vasta carteira de clientes.
Ainda era pobre,
mas a mulher e os filhos já desfrutavam do conforto da cidade. Há tempos sonhava com o serviço público.
Preparou-se com esforço para o difícil concurso
e alcançara aprovação. Nos primeiros dias de nomeado
deu expediente na casa do chefe: coisa rápida,
era a antena da televisão. Nesta ocasião acordaram
uma melhor forma de viver. O chefe lhe assegurava
o cargo público, ele recompensava o chefe
com pequeno pagamento mensal e obrigatório
e os clientes que ficassem tranquilos.
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Portinari, Candido
Homem Subindo em Escada de Corda
s.d. nanquim, guache, grafite, sépia e crayon colorido sobre papel 26,3 x 14 cm
Coleção Particular
Reprodução Fotográfica autoria desconhecida